domingo, 21 de fevereiro de 2010

O ANTI-INTELECTUALISMO MATA, MAS O ESPÍRITO VIVIFICA

“Meu negócio não é como teologia, mas com joelhologia”.

Essa frase, que tem aparência de espiritualidade, foi criada por um pregador piauense; e expressa um forte anti-intelectualismo. O antiintelectualismo se manifesta na oposição do estudo sistemático da Sagrada Escritura, por meio da teologia. Os anti-intelectuais são contra o estudo acadêmico, pois segundo eles, o crente precisa somente orar e o Espírito Santo revela a sua vontade. O curso teológico, mesmo o ortodoxo, é criticado com unhas e dentes.
01) A origem do anti-intelectualismo protestante.
O início do anti-intelectualismo no protestantismo começou nos exageros dos pregadores avivalistas do século 19, onde se dá o início do evangelicalismo. Os problemas dos reavivamentos nos Estados Unidos é que eles exageraram no aspecto emocional do cristianismo. Reagindo contra a apatia devocional de suas congregações, que eram secas emocionalmente, muitos crentes do século 19 caíram em outro extremo, o desprezo pela intelectualidade. “O pastor não era mais um professor que ensinava uma determinada congregação, mas era uma celebridade que inspirava o público em massa”, observa Nancy Pearcey, que lembra os avivalistas que souberam manter o equilíbrio entre devoção e racionalismo, citando o exemplo de Jonathan Edwards¹. O anti-intelectualismo já foi muito forte entre os pentecostais, fato esse que não pode ser negado. O teólogo Stanley M. Horton, o maior expoente hodierno do pentecostalismo clássico, escreveu: O Dr. Burton Goddard, que me ensinou hebraico no Gordon (Seminário Teológico Gordon-Conwell), incentivou-me a ir para Harvard fazer doutorado em Antigo Testamento. Ele também me ajudou a conseguir uma excelente bolsa de estudos. Quando contei ao irmão Smuland, meu superintendente distrital, que eu estava agradecido a Deus pela bolsa de estudos, ele retrucou: - A Deus ou ao diabo?
A missionária norte-americana Ruth Dorris Lemos junto como o seu esposo, o Rev. João Kolenda Lemos, implantaram o primeiro seminário assembleiano no Brasil, O Instituto Bíblico das Assembléias de Deus (IBAD) em outubro de 1958. Ela conta que “eles (os pastores brasileiros) não tinham uma visão desse trabalho aqui no Brasil. E também missionários de outros países não tiveram esse sentimento”. O anti-intelectualismo dos assembleianos brasileiros não partiu dos missionários suecos.
Eles sempre valorizaram o estudo bíblico, mas não tinham uma visão de seminários nos moldes americanos. O missionário Gunnar Vingren foi um O anti-intelectualismo mata, mas o Espírito vivifica "O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito”.Jo 3.6 dedicado seminarista por quatro anos em Chicago (EUA). O que prevaleceu foi as Escolas Bíblicas de Obreiros (EBO), que já fazem parte da tradição assembleiana. As EBO´s eram realizadas em pequenos períodos no ano. Apesar das EBO´s, muitos pastores pentecostais no Brasil eram anti-intelectuais e acusavam os seminários de “fábricas de pastores”. Esse tempo passou hoje o número de eruditos pentecostais só está crescendo, os seminários e faculdades assembleianas proliferam por todo o Brasil. Hoje, o perigo está em vários jovens que buscam seminários, e caem em covis de cobras do liberalismo teológico de Rudolf Bultmann ou da neo-ortodoxia de Karl Barth. Há até pentecostal que é considerado maior defensor do teísmo aberto, modismo teológico de origem liberal.

02) O anti-intelectualismo e o neopentecostalismo.

O anti-intelectualismo se manifesta de maneira violenta, hoje, no neopentecostalismo. O maior líder neopentecostal do Brasil escreveu: Todas as formas e ramos da teologia são fúteis, não passam de emaranhados de idéias que nada dizem ao inculto, confundem os
simples e iludem o sábio. Nada acrescentam à fé e nada fazem pelos homens, a não ser aumentar sua capacidade de discutir e discordar entre si. Será que esse líder não lembra dos benefícios, para o cristianismo, por parte dos teólogos ortodoxos que amavam a palavra de Deus? Certamente, se as ovelhas de muitos mercadores na fé, tivessem o mínimo de conhecimento bíblico, não entregariam os seus bens para sugadores e aproveitados, que usam a Bíblia de maneira indevida. A cada dia nasce uma nova denominação neopentecostal no Brasil, mas a maioria esmagadora dessas novas denominações, já nasce sem Escola Dominical. Será um interesse na ignorância
do povo? Infelizmente, muitas congregações de denominações tradicionais abandonaram a Escola Dominical.

03) A falácia do anti-intelectualismo.

Um dos textos bíblicos mais usados pelos defensores do anti-intelectualismo se encontra em 2 Co 3.6b(A letra mata, e o espírito vivifica). Quanto Paulo diz que a letra mata, ele não está se referindo ao estudo, mas a letra da lei de Moisés, que a ninguém salva, mas mostra o estado pecaminoso do homem e a severidade em relação ao pecado.
A Bíblia, pelo contrário, incentiva à busca pelo conhecimento: a) Não se aparte de sua boca o livro dessa Lei; antes medita nele dia e noite (Js 1.8a) b) A exposição de tuas palavras dá luz e dá entendimento aos símplices (Sl 119.130). c) No ano primeiro de seu reinado, eu Daniel, entendi pelos livros que o número de anos, de que falou o Senhor ao profeta Jeremias, em que haviam de acabar as assolações de Jerusalém, era de setenta anos (Dn 9.2). d) Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor (Os 6.3a). e) Errais não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus (Mt 22.29). f) Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam (Jo 5.39). g) Persiste em ler, exortar e ensinar (1Tm 4.13). h) Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos(2Tm 4.13). i) Antes, crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (2 Pe 3.18).

04) As causas do anti-intelectualismo.

Os principais fatores que contribuem para um forte anti-intelectualismo no meio evangélico é o pragmatismo religioso e o empirismo desenfreado. O pragmatismo baseia a verdade em sua utilidade e satisfação. O pragmático nunca pergunta se algo é verdadeiro, mas a sua pergunta é se algo funciona. A partir do momento que a funcionalidade de algo é a busca primaz do agente pesquisador, a sua tendência será o antiintelectualismo. A verdade, e sua busca, estão em segundo plano. O pragmático descobre, por exemplo, que um homem cura enfermos com “o cuspe de Cristo”,
em vez de buscar a base escriturística e fundamentar esse fato na verdade bíblica, o sujeito prefere a “cura do cuspe”, pois funciona.

Gutierres Siqueira
Jornal da "ASSEMBLÉIA DE DEUS NO AMAZONAS PITINGA - DISTRITO DE PRESIDENTE FIGUEIREDO"
Edição 31 - Página 04.
Ano III - Janeiro de 2010