domingo, 25 de julho de 2021

Quando acaba o luto? Quando luto!



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Olá!!!


    Faz um tempo que não apareço aqui, porém, existem inúmeras justificativas para essa afirmação, mas não é esse o foco do meu texto. O que quero compartilhar é algo tão profundo que não se pode mensurar, até por quê, ultrapassa a linha do analítico e passa para o íntimo, interno, escondido e maculado sentimento que é o luto ou falta.

            Ontem, foi o dia que mais chorei desde que perdi minha mãe no dia 12/12/2020, depois de passar quatro meses sofrendo com uma síndrome rara, veio a falecer, nova (para os padrões atuais) com 58 (cinquenta e oito) anos e 3 (três) meses, não resistiu a uma parada cardiorrespiratória e tendo seu fim neste plano às 19:50 horas, deixando família, amigos e irmãos de fé, abalados e sofrendo com sua ausência.

            Não foi do COVID-19, por permissão divina, para que pudéssemos velar seu corpo, mas foi devastadora e triste como as muitas cerimônias fúnebres que ocorreram.

            Porém, transcorrido esses sete meses e doze dias, sentei e chorei como fez Neemias, ao saber que sua terra estava desolada e abandonada, no capítulo um e versículo quatro do livro que leva seu nome “Quando ouvi isso, sentei-me e chorei” (Neemias 1:4, parte a NVT). No final do dia, já em casa, cansado, esgotado, moído ... chorei.

            O interessante, é que chorei pela ausência em um momento alegre, seria dúbio? Respondo. O dia começou com alguns agendamentos de prova de roupa, vou casar (se a noiva não desistiu, hahaha) e não vai demorar, então comecei os preparativos, e, um deles é escolher a roupa do noivo, algo que nunca havia feito, com 33 (trinta e três) anos de idade e alguns meses, não havia chegado a esse momento.

            Entretanto, não fui sozinho, levei um amigo, de longa data, padrinho do tal evento, e que, acompanha minha história e da família há alguns anos, que me ajudou nessa difícil tarefa, e que, além das muitas ajudas, ao longo da vida, está comigo novamente, e a quem quero deixar registrado meus estimados agradecimentos.

            Logo, isso não é substitutivo ou paliativo do que havia planejado ao longo dos anos, durante as muitas conversas com minha mamãe, pela manhã, tomando um chimarrão, antes do trabalho ou dos afazeres do dia a dia, ela dizia “a mãe quer ir com você escolher a sua roupa, e mais, entrar com você na igreja, para mim será uma honra meu filho” pena não ter registrado esse momento em um vídeo ou áudio, mas está registrado na minha memória.

            Pois bem, memória, algo que estudo e analiso já há algum tempo, memória é um dos estudos da história, mui especialmente da História Oral, que visa justamente registrar memórias e relacioná-las com a história como bem colocou Portelli, “A história oral e as memórias, pois, não nos oferecem um esquema de experiências comuns, mas sim um campo de possibilidades compartilhadas, reais ou imaginárias” (PORTELLI, Rio de Janeiro, 1996).

            Neste caso, memórias reais, do interlocutor que narra esse fato, e que é alguém, que necessariamente participou desse evento. Tomar ou degustar o “chimarrão” bebida típica gaúcha, porém bastante comum também no estado de Santa Catarina e Paraná, além dos países Hermanos da Argentina e Uruguai que também tem por cultura apreciar a “Ilex paraguariensis” ou popularmente chamada de erva mate.

            Voltemos ao relato. Passei o sábado vendo, provando e experimentando vestimentas típicas de um casamento. Rememorando justamente essa conversa, esse momento e esse passado que fez sentimentos aflorarem e manifestarem reações alegres e tristes, eufóricas e silenciosas, espessas e tênues. Prospectei, como seria se ela (minha mãe) estivesse aqui vivendo esse momento comigo e sonhando junto comigo esse momento, projetando junto a mim essa etapa.

            Sentei e chorei, quem sabe como ainda não tivesse chorado durante esses meses, e perguntei-me, qual é o luto? E por quê luto? Falta compreensão ou aceitação? Quem sabe.

            E compreensão é algo que falta, compreender que é algo natural que não acontece naturalmente, é uma ruptura que deixará marcas perpétuas, ou, até que eu deixe as mesmas marcas em alguém, portanto, é o ciclo normal da vida.

            Vida.

            Essa vida que cobra resultados, processos, caminhos, intersecções e atalhos que não nos cabem adivinhar, apenas deixar a vida CAMINHAR!

            Porém preciso compreender, e ainda tentar convencer a outras pessoas a também compreenderem que infelizmente preciso viver e lutar, da minha maneira, do meu jeito, da minha forma, mas preciso, e vou precisar, que me entendam, quando não consigo ir a um compromisso, quando estou cansado e não tenho forças (muitas vezes psicológicas) de falar, de rir, de conversar.

            Por isso, surgem as afirmações “me entenda”, “se coloque no meu lugar”, “tente compreender” e etc., é mais do que um pedido de espera, mas, um suspiro de um acalento, de um interior, de um sentido. É a noiva, que sente falta, é o pai que não sabe como ajudar, é o trabalho que fica faltando alguns detalhes, é o acadêmico que não consegue terminar o raciocínio necessário nos diálogos das fontes, é o ..., é o ..., é o ...

            Enfim, quando termina? Quando ainda continuo lutando, com o pouco de forças que resta de forças e pessoas.

            Sim, restam poucas pessoas, por não compreenderem (e quem sabe estão certas) e elas precisam de compreensão também, é um exercício bilateral, como em um contrato ou acordo, que vira lei entre as partes, que nem a própria lei, supra e infraconstitucional consegue desatar.

            Pois bem, permaneçamos firmes, apesar dos pesares permaneçamos firmes! Afinal, alguns processos precisam ser finalizados, repetidos e ressignificados, com suas proporções e declínios que ainda a vida irá cobrar.

            Por último, peço desculpa (compreensão), por não ser o cem por cento, que deveria ser, por estar fazendo muito menos daquilo que poderia fazer, sinto que faço de tudo, com quase nada. E, agradeço a Deus, pelas pessoas que permanecem na minha história apesar de tudo isso, me amam, me abraçam, me respeitam e sabem que o luto não termina, mas ameniza.

            Só restaram, saudades e lembranças e um dia seremos apenas isso também!


Eliéder Fortes

Ponta Grossa, 24/07/2021 – 23:17 hs.