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Olá!!!
Faz um tempo que não apareço aqui, porém, existem inúmeras justificativas para essa afirmação, mas não é esse o foco do meu texto. O que quero compartilhar é algo tão profundo que não se pode mensurar, até por quê, ultrapassa a linha do analítico e passa para o íntimo, interno, escondido e maculado sentimento que é o luto ou falta.
Ontem, foi o dia que mais chorei
desde que perdi minha mãe no dia 12/12/2020, depois de passar quatro meses
sofrendo com uma síndrome rara, veio a falecer, nova (para os padrões atuais) com
58 (cinquenta e oito) anos e 3 (três) meses, não resistiu a uma parada cardiorrespiratória
e tendo seu fim neste plano às 19:50 horas, deixando família, amigos e irmãos
de fé, abalados e sofrendo com sua ausência.
Não foi do COVID-19, por permissão
divina, para que pudéssemos velar seu corpo, mas foi devastadora e triste como
as muitas cerimônias fúnebres que ocorreram.
Porém, transcorrido esses sete meses
e doze dias, sentei e chorei como fez Neemias, ao saber que sua terra estava
desolada e abandonada, no capítulo um e versículo quatro do livro que leva seu
nome “Quando ouvi isso, sentei-me e chorei” (Neemias
1:4, parte a NVT). No final do dia, já em casa,
cansado, esgotado, moído ... chorei.
O interessante, é que chorei pela
ausência em um momento alegre, seria dúbio? Respondo. O dia começou com alguns
agendamentos de prova de roupa, vou casar (se a noiva não desistiu, hahaha) e
não vai demorar, então comecei os preparativos, e, um deles é escolher a roupa
do noivo, algo que nunca havia feito, com 33 (trinta e três) anos de idade e
alguns meses, não havia chegado a esse momento.
Entretanto, não fui sozinho, levei
um amigo, de longa data, padrinho do tal evento, e que, acompanha minha
história e da família há alguns anos, que me ajudou nessa difícil tarefa, e
que, além das muitas ajudas, ao longo da vida, está comigo novamente, e a quem
quero deixar registrado meus estimados agradecimentos.
Logo, isso não é substitutivo ou
paliativo do que havia planejado ao longo dos anos, durante as muitas conversas
com minha mamãe, pela manhã, tomando um chimarrão, antes do trabalho ou dos
afazeres do dia a dia, ela dizia “a mãe quer ir com você escolher a sua roupa,
e mais, entrar com você na igreja, para mim será uma honra meu filho” pena não
ter registrado esse momento em um vídeo ou áudio, mas está registrado na minha
memória.
Pois bem, memória, algo que estudo e
analiso já há algum tempo, memória é um dos estudos da história, mui
especialmente da História Oral, que visa justamente registrar memórias e
relacioná-las com a história como bem colocou Portelli, “A história oral e as
memórias, pois, não nos oferecem um esquema de experiências comuns, mas sim um
campo de possibilidades compartilhadas, reais ou imaginárias” (PORTELLI, Rio de Janeiro, 1996).
Neste caso, memórias reais, do
interlocutor que narra esse fato, e que é alguém, que necessariamente
participou desse evento. Tomar ou degustar o “chimarrão” bebida típica gaúcha,
porém bastante comum também no estado de Santa Catarina e Paraná, além dos
países Hermanos da Argentina e Uruguai que também tem por cultura apreciar a “Ilex paraguariensis” ou popularmente chamada de erva mate.
Voltemos ao relato. Passei o sábado
vendo, provando e experimentando vestimentas típicas de um casamento.
Rememorando justamente essa conversa, esse momento e esse passado que fez
sentimentos aflorarem e manifestarem reações alegres e tristes, eufóricas e silenciosas,
espessas e tênues. Prospectei, como seria se ela (minha mãe) estivesse aqui
vivendo esse momento comigo e sonhando junto comigo esse momento, projetando junto
a mim essa etapa.
Sentei e chorei, quem sabe como
ainda não tivesse chorado durante esses meses, e perguntei-me, qual é o luto? E
por quê luto? Falta compreensão ou aceitação? Quem sabe.
E compreensão é algo que falta,
compreender que é algo natural que não acontece naturalmente, é uma ruptura que
deixará marcas perpétuas, ou, até que eu deixe as mesmas marcas em alguém,
portanto, é o ciclo normal da vida.
Vida.
Essa vida que cobra resultados,
processos, caminhos, intersecções e atalhos que não nos cabem adivinhar, apenas
deixar a vida CAMINHAR!
Porém preciso compreender, e ainda
tentar convencer a outras pessoas a também compreenderem que infelizmente
preciso viver e lutar, da minha maneira, do meu jeito, da minha forma, mas
preciso, e vou precisar, que me entendam, quando não consigo ir a um
compromisso, quando estou cansado e não tenho forças (muitas vezes
psicológicas) de falar, de rir, de conversar.
Por isso, surgem as afirmações “me
entenda”, “se coloque no meu lugar”, “tente compreender” e etc., é mais do que
um pedido de espera, mas, um suspiro de um acalento, de um interior, de um
sentido. É a noiva, que sente falta, é o pai que não sabe como ajudar, é o trabalho
que fica faltando alguns detalhes, é o acadêmico que não consegue terminar o
raciocínio necessário nos diálogos das fontes, é o ..., é o ..., é o ...
Enfim, quando termina? Quando ainda
continuo lutando, com o pouco de forças que resta de forças e pessoas.
Sim, restam poucas pessoas, por não
compreenderem (e quem sabe estão certas) e elas precisam de compreensão também,
é um exercício bilateral, como em um contrato ou acordo, que vira lei entre as
partes, que nem a própria lei, supra e infraconstitucional consegue desatar.
Pois bem, permaneçamos firmes,
apesar dos pesares permaneçamos firmes! Afinal, alguns processos precisam ser
finalizados, repetidos e ressignificados, com suas proporções e declínios que
ainda a vida irá cobrar.
Por último, peço desculpa
(compreensão), por não ser o cem por cento, que deveria ser, por estar fazendo
muito menos daquilo que poderia fazer, sinto que faço de tudo, com quase nada.
E, agradeço a Deus, pelas pessoas que permanecem na minha história apesar de
tudo isso, me amam, me abraçam, me respeitam e sabem que o luto não termina,
mas ameniza.
Só restaram, saudades e lembranças e
um dia seremos apenas isso também!
Eliéder Fortes
Ponta Grossa, 24/07/2021 – 23:17 hs.